Querido Humo,
Quanta felicidade ao ver sua carta no correio, mal consegui esperar para abrir o envelope em casa, e fui rasgando o papel pela escada, deixando resquícios pelo corrimão. Sentei-me à varanda e li de um só fôlego tudo que tinhas dito. Como é bom ler as palavras tuas, mas ainda me parecem poucas para tamanha saudade. De qualquer maneira, já foram suficientes para alegrar meu dia. O que acontece, querido, é que ainda me sinto uma estranha nessa cidade. Lisboa não é como o Brasil, as pessoas não são tão acolhedoras. Mas aqui é muito bonito, mais bem cuidado,
eu diria. O fato é que me sinto uma estranha nessa cidade, me falta raiz. E justo agora, quando
entra o verão no Brasil, e as pessoas vão à praia tomar sol, me faltam casacos para espantar
o frio. Não vejo a hora de voltar para casa. A verdade é que não consigo me habituar. Humo,
você não imagina como está minha vida, praticamente virada de pernas para o ar, estou
confusa, praticamente uma desconhecida que pulsa inquieta dentro do meu próprio corpo.
A formatura foi deliciosa, ainda bem que agora falta pouco para o regresso. Você bem que
podia vir me visitar antes disso. Enfim, ainda falta entregar o trabalho final, que não consigo
terminar. Querido, como eu dizia, aconteceram muitas coisas nas últimas semanas. Ou se
olhar por outro lado, o real pode ser que não tenha acontecido nada. Mas esse nada que pode significar muito mais que isso, me deixa em suspensão. Parece que preciso nadar para sair do fundo de um rio e respirar, ainda estou no meio do trajeto, quase sem ar. O que ocorre é que, confesso, posso ter sido ludibriada pelas seduções do amor, sim, eu sei, você deve estar rindo agora, não podendo crer no que digo. Mas é verdade, acho que me apaixonei, depois de tanto
tempo, e achando que nunca mais fosse acontecer comigo, que eu não era tão inocente assim,
a ponto de cair nessa. Como a gente se engana não é? Quando menos esperamos, ele reaparece
e nos envolve com suas garras disfarçadas de bons sentimentos, de pequenas chamas,
que te permitem acreditar que dessa vez, por que não? Tudo pode ser diferente. Porém,
querido, já estou sofrendo, imagine, me apaixonei novamente pela pessoa errada. E para
piorar, não sei o que fazer. Não consigo controlar o que sinto, e nunca antes, me pareceu
tão errado gostar de alguém. Tudo começou com palavras que acho, posso ter interpretado
mal, mas o fato é que tudo me instigou de tal forma, que quando dei por mim, já estava mais
envolvida do que queria. O meu mal é que começo a criar histórias que ainda não existem
na minha cabeça, e essas histórias tomam parte da minha vida, e quando eu percebo já não
sei mais como sair disso tudo. Enfim querido, não quero me alongar demais. Muito bom saber
das suas viagens e saber que estás bem. Numa próxima carta te conto com mais detalhes
o que está acontecendo por acá.
Da sua amiga, uma romântica fora de época,
Branca
sábado, 5 de dezembro de 2009
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