Mais uma vez sinto muitíssimo tê-lo deixado sem notícias, o que acontece é que realmente minha saída de Lisboa foi um tanto repentina, e mal tive tempo de arrumar as coisas, quanto mais parar e escrever. Minha querida avó está doente, sim. Um mal que aos poucos, a cada dia a mais, a deixa com algumas memórias a menos. No princípio, não me preocupei deveras, achava que era esquecimento da idade. No entanto, agora, não posso ignorar mais. E minha avó não pode mais ficar só. Outro dia, ela fazia o café, foi pegar alguma coisa na sala, se esqueceu da chaleira no fogão e por pouco não colocou fogo em toda a cozinha. Mas tudo está sob controle agora e estou contente de ter retornado ao Brasil. Afinal é minha avó, e não confiaria seus cuidados a mais ninguém. Estou estupefada com a notícia de que Henrique vai se casar! Mas será possível? O que lhe importa mais, um alto cargo na mineradora de seu pai, ou um amor para a vida toda?! Estou estupefada, para dizer o mínimo! Ainda mais com a sua prima Mariana, moça mais sem sal, insossa, que mal sabe manter uma conversa sobre algum assunto mais interessante, que não lê livros! Meu amigo, compartilho da sua decepção julgava Henrique um homem mais inteligente e com mais critérios. Enfim, meu querido amigo, cada dia que passa percebo que as pessoas são mais estranhas do que imagino, que talvez a normalidade e o romantismo é que sejam a loucura dos nossos dias. Tenho pensado muito nisso ultimamente. Estou curiosa para conhecer o famoso Luke. E como está em relação a ele? Eu arriscaria dizer que você não costuma dar certo com esses tipos frágeis em excesso, mas posso estar errada, bem sei. Preciso contar-lhe como as coisas transcorreram em Lisboa. Eu e Laura tivemos um romance rápido, e mais por medo dela e ansiedade de minha parte acabou não dando certo. Ela vem de uma família tradicionalíssima, na qual esse tipo de comportamento jamais seria tolerado. O pai tem muita influência sobre ela (o que veio o complicar muito o nosso relacionamento, devo dizer) e ele é um velho teimoso, se desconfiasse de qualquer coisa nesse sentido a deserdaria. Conversávamos longamente sobre isso, e algumas vezes brigamos. Eu também não poderia assumir nada, principalmente porque minha fonte de renda ainda é muito escassa e não estaria disposta a enfrentar um escândalo. Já sinto falta do sotaque belo de Laurita. Chego a suspirar de saudade. Mas a verdade meu amigo, é que não a amei verdadeiramente, em nenhum momento. E sempre tive consciência disso. Era paixão, pura e simples. E por isso mesmo passageira, eu sabia. Sinto falta de sua presença, de poder sentir seu corpo contra o meu, da textura de sua pele macia, porém não mais do que isso. Sabe o que mais me tirava a paciência em Laura? A sua infantilidade. E agora vem você, logo você! Me contar que está envolvido com um garoto de 17 anos de idade?! Acho no mínimo irônico. Mas já aprendi que a vida nos dá as suas voltas e nos mostra que tudo é relativo, não é verdade? Por isso, me conte mais desse Yves, talvez ele mereça mais o meu respeito do que Henrique. Muito provavelmente, aliás. Essa semana resolvi escrever a Laura, acho que a carta deve demorar a chegar e sei que consigo ela carrega um perigo iminente, imagine se seu pai a recebe e resolve lê-la... Mas já faz mais de três meses que não tenho notícias dela, e Laura não sabe meu endereço no Brasil. Por isso resolvi arriscar. Quanto ao livro está tomando forma, devagarinho, nada de concreto posso lhe dizer ainda, mas suponho que vai gostar. Aqui em Petrópolis faz um frio de menos de dez graus, e com a geada constante tenho a impressão de que é ainda mais frio.
Saudades,
Branca
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